O incrível é pensar como o ego venceu a minha falsa (mas muito viva!) humildade quando decidi criar o blog...aaaaa, sim! Agora, sim!!! Que delícia esse espaço!




terça-feira, 30 de março de 2010

O fim do aprendizagem....

Que eu me lembre, não entendi nunca o dizer das pessoas de que os homens são mais práticos que as mulheres. Nunca consegui comparar os dois sexos, que eu me lembre. A única diferença que conheço é a de que compreendo muitíssimo mais meus amigos do que minhas amigas. Mas literalmente só isso, mais nada.

Mas a poucas semanas atrás um conhecido meu veio me lembrar desse famoso contraste entre homens e mulheres (a praticidade de um e a complicação do outro). Aceitei, mas mesmo querendo, não entendi. Não entrei no que ele falava, sabe?

Hoje, lendo Clarice, entendi, finalmente:

" - Eu sempre tive que lutar contra a minha tendência a ser a serva de um homem, disse Lóri, tanto eu admirava o homem em contraste com a mulher. No homem eu sinto a coragem de se estar vivo. Enquanto eu, mulher, sou um pouco mais requintada e por isso mesmo mais fraca - você é primitivo e direto."

domingo, 28 de março de 2010

Engracado como eu me expresso tanto. Falo tanto, falo muito! e adoro, sinceramente, mesmo que as vezes seja algo meio inconveniente é uma caracteristica da minha personalidade que aaaaaaaaaaaaai me da uma vontade de tagarelar o dia inteiro! mas agora, quando fui escrever, senti uma limitacao engrancada, só d epensar no comecar a escrever.
Ontem a reza da clarice me chamou muita atencao, como tudo que ela escreve. E eu fiquei criando a possibilidade de reza que ja tinha se tornada reza naquela altura do campeonato e foi diferente e curioso e vontade de estar naquilo.
( ) me ligou hoje umas cinco vezes mas como eu estava durmindo nao atendi, mas acho tao bom el() me ligar querendo se encontrar comigo, acho uma delicia! menos um peso de critica de julgo de briga de desentendimento. Que bobagem, nao? Eu querern me dar bem com tudo e com todos e ter a ilusao de que o melhor é que as pessoas me achem boa o bastante para querenrem a minha companhia. Minha nossa, que bobo! QUE bobo! mas acontece, é vida, como ando dizendo por aí.
Pra variar estou adorando meu estado sentado na chuva escrevendo e escutando um violao...ô sonho de consumo! casa da avó, já tendo conversado com a familia paterna (eeeeeeeeeeeeeê maravilha), sozinha escrevendo e pondo musicas no meu lindo e querido e maravilhoso computadorzinho que guarda o que eu tanto gosto. Idai que nao da tudo quanto é filme e programa? Eu gosto dele assim, um reflexo de mim mesma.
como as coisas sao mais complexas do que realmente são. E uma solucao tao glamourosa é nao julgar, até porque, minha nossa, como isso movimenta ondas e ondas e como isso cria um tudo, nunca vi! e nao é questao de companhias, por aí já começo a julgar, que impressionante! cansei dessa responsabilidade que eu julgo séria de dizer dos outros, de mim já é trabalhoso, mesmo que bom, mas com os outros é totalmente diferente, nao falar dos outros, minha nossa, que sentimento livre pros dois lados, nao? Ate porque, julgando um alguem, eu crio para este uma caixa que o limita, porque eu ja to tao presa nessa personalidade e vejo ao estar com a pessoa só a caixa pele que é tão limitada, minha nossa.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Estou ouvindo enlouquecidamente I could die for you

Hoje o dia foi uma coisa!



O pedro II tem me encantado cada vez mais; o villa lobos foi aluscinante e o encontro com a música da banda dos amigos foi uma almofada me dando espaço pro sonho de participar de uma banda. Cantando tanto.

Poema do dia:

"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."

Manuel, meu lindo.
(cordialmente: Manuel Bandeira).

segunda-feira, 22 de março de 2010

Espelho

Me encantei hoje quando sofri uma situação - triste (?) - e vi como TUDO, TÃO TUDO, acontece num intervalo de tempo tão infinitamente pequeno. E até o que não acontece - o fato tão cru: morte - se passa nesse intervalo ridículo.

domingo, 21 de março de 2010

Coisa linda

Coisa linda a Cecília Meireles, minha nossa.

E que coisa linda escrever depois de tanto tempo nesse meu segundo organismo.
Adorei os comentários que foram deixados na última postagem.

Aqui nossa cecília linda:

Motivo da rosa


Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

segunda-feira, 8 de março de 2010

nao tenho ideia pra titulo hoje, nao

Caraaaamba, minha garganta ta como que: riiiiiiiispftza

e, que coisa, to doida pra cantar cassia eller, minha nossa, ela ta aqui com aquela coisa maravilhosa que ela é!

aliás, humano, VÁ AO YOUTUBE E PROCURE FADAS LUIZ MELODIA E ELZA SOARES E MOOOORRA!!!

acabei de me lembrar de uma vez que um amigo me falou como achava que literatura era algo que nao deveria contar o escritor, e sim a humanidade que o lê. Eu realmente achei uma coisa: mas falar de si resulta em falar do outro, criatura!!! - mesmo assim penso cotidianamente nesse texto.

Realmente nao sei porque! Logo eu, que faço tanto o que da espaço pra fazer em mim - mas o que dá pra ser criado por mim sem o/os outro/s corpo/s, claro - mesmo assim penseu nisso pondo de lado a minha vontade de ser eu sem os outros. Ah! Aliás falava sobre isso hoje na minha aula de português: dizia-se como nao podemos criar um raciocínio independente. "Tem que ser um raciocínio super amplo!" ela disse.

Estranhíssimo isso.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Cartas virtuais - enquanto a bruna coisa linda tem de se ocupar com a sobrevivência, escrevo aqui o que escreveria pra ela : )

Luísacoisalinda me deu de presente escrever num diário virtual e público (aai, que mêda!). Eu realmente não sei se tem jeito e nem qual o limite de se escrever num blog. Pra quem me conhece, sabe que eu falo muito como o vento que eu peguei hoje em botafogo. Ah sim! Porque eu hoje iria prum exame de videolaringoscopia analisar minhas tão constantemente analisadas por mim cordas vocais. Mas, depois de uma carona que me dói o coração e dá vontade de chorar com o meu tão querido amigo ator (aaaai, que cachoeira-angustia vive dentro do meu corpo!), notei que minha carteira tinha sido esquecida em cima da cama. E que coisa maravilhosa!!! Além de fazer cafuné em mim mesma abrindo novas nascentes de pensar (ex.: acontece esquecer carteira), viví uma boa trilha pra andar cantando, parei numa coisa envolvida de mata no meio do meu próprio bairro (!) e, uau, que coisa maravilhosa, não tinha dinheiro pra nada. Vocês conseguem imaginar o que não é ter dinheiro pra nada, assim, num intervalo rápido? Parar em livraria, sem pensar na coisa boa de comprar livro, ou cd, ou dvd, ou caderno, ou agenda, ou o que quer que seja. Andar, sabendo que se não andar vai ficar parado e pronto! Sei que não to conseguindo expressar, humano, o que de tão fabuloso aconteceu,

Na tal coisa fechada por mata tinham uns coquinhos caidos pelo chão. E o mais incrível é que de primeira eu fiquei com medo dos coquinhos caírem na minha cabeça, você acredita? Por que esse medo de ser tocada, de coquinho cair e ter gosma dentro que transforma cabelo tranquilo em cabelo ridículo? Que coisa mais chata! / Ele também lembrou a minha infância, uns rirão dizendo que eu ainda não saí dela, pois bem, da minha outra infância, quando brincava no pátio da escola, também cercada por mata, e tinha uns coquinhos que caiam das árvores. No início eles eram meio pele humana e cor de flor meio viva meio morta, mas depois eles viravam coquinhos legítimos!

Espero não estar me abusando demais - o que me afirmaria se estou ou não, afinal?

Obs. MUITO importante: eu não pensorealmente na possibilidade de ser sarcástica em momento nenhum.

Willian Blake

Leiam que coisa maravilhosa:

"Atrop anagrama de porta. A porta dos sentidos aberta através da percepção. As portas da percepção normalmente ficam semi-cerradas para a própria proteção do indivíduo, que de outra forma se distrairia com a enxurrada de estímulos desnecessários para a sobrevivência. Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector

Pra quem não me conhece, sou uma adoradora da Clarice Lispector. Adoradora realmente não consegue explicar nada. Nem sei porque escrevi desse jeito.

"Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio."

C.L.

Obs.: Ouçam essa música e, aaaaai, que coisa maravilhosa!
http://www.youtube.com/watch?v=PjZbWzE3UKY

quarta-feira, 3 de março de 2010

Reescrituras de Manuel de Barros

"Por forma que a nossa tarefa principal
era a de aumentar
o que não acontecia.
(Nós era um rebanho de guris.)
A gente era bem dotado para aquele serviço
de aumentar o que não acontecia.
A gente operava a domicílio e pra fora.
E aquele colega que tinha ganho um olhar
de pássaro
Era o campeão de almentar os desacontecimentos.
Uma tarde ele falou para nós que enxergara um
lagarto espichado na areia
a beber um copo de sol.
Apareceu um homem que era adepto da razão
e disse:
Lagarto não bebe sol no copo!
Isso é uma estultícia.
Ele falou de sério.
Ficamos instruídos.

Com aquela sua maneira de sol entrar em casa
E com o seu olhar furado de nascentes
O menino podia ver até a cor das vogais -
como o poeta Rimbaud viu.
Contou que viu a tarde latejar de andorinhas.
E viu a garça pousada na solidão de uma pedra.
E viu outro lagarto que lambia o lado azul
do silêncio.
Depois o menino achou na beira do rio uma pedra
canora.
Ele gostava de atrelar palavras de rebanhos diferentes
Só para causar distúrbios no idioma.
Pedra canora causa!
E um passarinho que sonhava de ser ele também
causava.
Mas ele mesmo, o menino
Se ignorava como as pedras se ignoram.

Desde sempre parece que ele fora proposto a pássaro.
Mas não tinha preparatórios de uma árvore
Para merecer no seu corpo ternuras de gorjeios.
Ninguém de nós, na verdade, tinha força de fonte.
Ninguém era início de nada.
A gente pintava nas pedras a voz.
E o que dava santidade as nossas palavras era
a canção do ver!
Trabalho nobre aliás mas sem explicação
Tal como costurar sem agulha e sem pano.
Na verdade na verdade
Os passarinhos que botavam primavera nas palavras."

Manuel de Barros

Obs.: Esqueci de informar na página principal do "blog" que eu gosto muito de reescrever.






Mãos (Augusto dos Anjos)

Há mãos que fazem medo
Feias agregações pentagonais,
Umas, em sangue, a delinqüentes natos,
Assinalados pelo mancinismo,
Pertencentes talvez...
Outras, negras, a farpas de rochedo
Completamente iguais...
Mãos de linhas análogas e anfratos
Que a Natureza onicriadora fez
Em contraposição e antagonismo
Às da estrela, às da neve, ás dos cristais.

Mãos que adquiriram olhos, pituitárias
Olfativas, tentáculos sutis,
E à noite, vão cheirar, quebrando portas
O azul gasofiláceo silencioso
Dos tálamos cristãos.
Mãos adúlteras, mãos mais sanguinárias
E estupradoras do que os bisturis
Cortando a carne em flor das crianças mortas.
Monstruosíssimas mãos,
Que apalpam e olham com lascfvia e gozo
A pureza dos corpos infantis.

Perdoando Deus (Clarice Lispector)

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece – me sentia satisfeita com o que via.

Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existia. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. Assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.

E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava – me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava – se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmensurado de ratos.

Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava – os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava – me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terreno tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim no passado do mundo, os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim? Eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava – me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo – Poderoso, contra um Deus que até com o rato esmagado podia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará – lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava. E que eu, olhando com raiva essa coisa, eu o visse? No rato? Naquela janela? Nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.

Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? Pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas dele – mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que ele fez, vou estragar a sua reputação.

... Mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Por que o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão ìntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto nós mesmos, à distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas por que não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.